quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

U M A S S U N T O P O L Ê M I C O

Hoje, 30 de janeiro de 2012, vi uma reportagem no jornal da Globo que me motivou iniciar esse texto. Tratou a reportagem da venda sem receita médica de remédio de tarja preta, chamado ivotril. Trata-se de um remédio inibidor de ansiedade. A minha experiencia nessa área não é pequena pois ha cerca de trinta quarenta anos atrás tive sintomas de ansiedade que bagunçaram minha vida durante dois ou tres anos. Não dormia direito, tinha suores intensos nas mãos, problemas digestivos, hemorroidas e possivelmente mais alguns sintomas psicossamáticos que não me lembro agora. E aprendi, pois sempre fui muito curioso sobre assuntos que me interessam, que a ansiedade não é nada mais, nada menos, que fuga da depressão. Esse fato, me fez lembrar de queixas de uma amiga e parceira de dança de salão, médica neurologista, que na época trabalhava numa das unidades de pronto atendimento daqui de Uberlândia, que aqui chamam  de Uai. Reclamava que vivia em pé de guerra com a direção da Uai, que queria que ela dinamizasse o atendimento, receitando esse famoso ivotril. E ela, valorizando o famoso juramento de hipócrates, ficava, meia hora ou mais com o paciente, tentando resolver o problema do mesmo sem receitar o Ivotril. Muito louvavel a atitude de minha amiga, mas completamente inócua. Ao que eu saiba, depressão é um assunto exclusivo de psiquiatras, resultado de traumas na infância, falhas na educação, conceitos errados de vida, etc., etc., etc. E, em 99% dos casos, precisam ser tratados com os famosos remédios de tarja preta e muita psicoterapia, ou, para aqueles que não estão familiarizados com o termo técnico, tratamento de uma mente doentia. Devido ao uso dos medicamentos, chego a duvidar que psicólogos consigam muita coisa, pois não podem receitar remédios. Se bem que quem descobriu a psicologia, O Dr. Freud no seculo XIX, tratava seus pacientes com muita conversa e interpretação de sonhos, assombrando o mundo científico da época, conseguindo que uma paciente cega por problemas psicossomáticos(é incrivel mas é verdade) voltasse a ver, e creio eu, na época não existiam medicamentos para essa finalidade. Mas como estamos no Brasil e o lobie da medicina deve ser ploderosissimo no congresso, só médicos podem receitar remédios. Afff.

Mas, voltando ao Ivotril, principal objetivo desse texto, nunca soube de algum paciente que tenha se prejudicado por tomá-lo. Acredito que o grande perigo é que o usuário crie uma dependência. Mas quantas doenças não exigem que o indivíduo tome determinado medicamento por toda a vida. E convenhamos, que caso o nosso sistema de saúde resolvesse custear o tratamento correto, não haveria psiquiatras disponiveis. Segundo a reportagem, esses medicamentos para diminuir a ansiedade são os mais vendidos no Brasil.

Mas, voltando à minha amiga neurologista que não receitou o remedio para atenuar os efeitos da ansiedade, tive um exemplo prático de como ela estava errada.

Na época em que saia com ela, comentei o fato com uma amiga que tem uma loja de produtos esotéricos. A mesma se surprendeu pois havia se consultado com ela a poucos dias.

Comentei o fato com a neurologista e a mesma me contou que a mesma estava com um quadro depressivo acentuado e como a mesma era mais nova que ela cerca de 20 anos, aconselhou-a a mudar de vida, procurar novas atividades, entrar num acordo de convivência com marido e filhos.

Conclusão, minha amiga por motivos óbvios não mudou de vida, não conseguiu outras consultas com a neurologista e, ao que tudo indica deve continuar deprimida, sabe-se lá se não tem doenças psicossomáticas, enfim com uma qualidade de vida péssima. Sei não, mas tenho a impressão que se minha amiga tivesse receitado o remédio para ela sua qualidade de vida teria melhorado muito.

Enfim, é mesmo como diziam meus avós: de boas intenções o inferno esta cheio.


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Festas de fim de ano

Esta é uma época do ano em que família e amizades são valorizadas ao máxima; foi um ano atípico, porque coloquei prótese dentária com parafuso de titânio e, por esse motivo, praticamente paralizei minhas atividades de dança de salão. Ano passado frequentei as aulas do Mauro Souza no parque do Sabiá, que aliás nunca foram aulas, mas apenas uma preparação para a apresentação que o mesmo faz todo mes de dezembro; o Mauro não tem mais academia de dança e trabalha como catedrático de educação física na Unitri(falculdade particular). Muito desatualizado, predominando entre seus alunos, pessoas da terceira idade, na maioria, com dificuldades imensas de coordenação motora. Aliás, o que mais me aborreceu, foi a sua determinação de que eu só poderia participar de uma coreografia de bolero, com uma colega com a deficiencia citada e uma má vontade incrivel para decorar a coregrafia. Ainda bem que me apresentei de roupa preta e bem no fundo do grupo. A coisa foi tão ruim, que nem coloquei a gravação no Youtube. Se bem que a Venildes, bem mais esperta, insistiu com ele para que a deixasse participar comigo mas, o Mauro não permitiu. Não fiz nenhum comentário a respeito mas, a Venildes, disse que o mesmo não deixou porque iriamos aparecer mais que ele. Sei lá. Mas, para provar que tenho a máxima consideração por ele, no começo do ano, achei no Youtube uma academia de roda de casino em Miami. Descobri um video com seis aulas, cada uma de mais ou menos oito minutos, gravei num cd e levei para ele. Em junho entrei para a academia do Fernandão, aqui perto de casa. Sem grandes espectativas, tres aulas por semana, bolero, samba de gafieira e forró, entrei mais para não ficar parado. Aos poucos fui me surpreendendo com a didática do mesmo. É impressionante a alegria e dedicação do mesmo com os alunos. Ainda ontem, comunicou aos alunos que as tres aulas dessa semana e da semana que vem, vai se dedicar a limpar os passos mais elementares do samba de gafieira. Ao fim da aula, vendo como os casais faziam o gancho redondo, puladinho e pião em sequencia, ficou que não se aguentava de alegria. Foi a melhor surpreza do ano. Outra coisa, dia 17 pp alugou um salão de festas para comemorar seu aniversário coincidinho com um workshoping com professores de Brasilia e Rio de Janeiro. O evento foi um sucesso. Fez umas quatro apresentações com alunos da academia, mas somente para aqueles que se inscreveram, sem a menor pressão para participarem. Perfeito.

Mas voltando ao tema desta, festas de fim de ano, uma das coisas boas daqui de Uberlândia, é que, diferente de São Paulo, não existe aquela correria e apelo ao consumismo. Como moro só, muito provavelmente vou passar a vespera de Natal em casa de amigos e, almoçar no dia de Natal em compania de meus filhos na casa da ex, aqui pertinho. No mais, falar com a Venildes para ver se consigo comprar ingressos para mim e para a Flora para o baile do SESC, dia 27 a noite. Nenhuma grande espectativa, tudo calmo, tudo normal.

Acho ainda que o grande diferencial das coisas que fiz nesse 2011, foi ir a São Paulo no fim de agosto a procura de meu passado, principalmente, de meu padrasto. Viagem frustrante pois não consegui alugar um carro por não ter cartão de crédito, nem pagando adiantado. Queria passar pelo tunel Ayrton Sena sob o Ibirapuera, pela ponte saiada no Brooklyn, visitar cemitérios. Sem o carro, não deu. Tambem logo que cheguei descobri que meu padrasto havia morrido tres anos atrás. Através de parentes distantes soube tambem que vários proximos tambem haviam morrido. Fui procurar a vida e só encontrei a morte. Aff. Soube, uns quatro meses antes de ir, que um grande amigo, Luiz Antonio Sundfeld, tambem havia morrido em 1997.

Mas tudo bem, 2012 vem ai, e quem sabe até o fim do mesmo, esteja em condições de dar uns showzinhos de samba de gafieira como quer o Fernandão. Com certeza será com uma dama bem mais nova, porque minha parceira preferida, mais ou menos da minha idade, a Maria Helena se mudou para João Pessoa, aquela sortuda.

sábado, 28 de maio de 2011

A D A L A R D O

Interessante a quantidade e variedade de pessoas que conhecemos durante nossas vidas. Centenas, milhares; e todas diferentes umas das outras mesmo em se tratando de gêmeos univitelinos. Algumas se destacam mais, outras menos, algumas com grande importância em nossas vidas, outras nem tanto. Mas, de todas que conheci, uma das mais surpreendentes foi o Adalardo. Nascido em Indianópolis, currutela a cerca de 50 Kms de Uberlândia, paupérrima como praticamente todas currutélas do Triângulo Mineiro, muito provavelmente em meados dos anos quarenta do século XX. Analfabeto, como a grande maioria dos triangulinos da época, passou infância, adolescência e parte da maturidade no meio rural de Indianópolis. Mudou com a mulher e dois filhos para Uberlândia no início dos anos setenta, mais especificamente no Bairro Tibery, bairro formado quaze que exclusivamente por pessoas oriundas da mesma região. Adalardo não era religioso mas sua esposa, Dona Abadia, era testemunha de Jeová. Adalardo não bebia regularmente, mas de tempos em tempos, mais ou menos a cada ano e meio, danava a tomar cachaça e assim, passava cerca de um mes, praticamente sem comer ou beber. Não ficava agressivo, não molestava ninguem, não perdia o seu eterno bom humor. Acho que em sua santa ignorância, tirava férias de ser um bom homem. E bebia sem parar durante um mes. Passado esse periodo, voltava as suas atividades de "free lancer". Como era muito inteligente, sempre encontrava uma maneira de prover sua casa e sua família. Quando o conheci, vendia uma bebida chamada Paratudo, um composto de cachaça com raizes amargas. E mesmo assim, vendendo cachaça, passava cerca de ano e meio sem engulir uma gota de álcool. Mas, durante esse breve periodo em que bebia, acontecia algo extremamente desagradavel. Sua esposa, dona Abadia, apesar de ser uma pessoa de ótimo conceito, batia no coitado com pedaços de pau. Os filhos, uma filha que havia nascido em Uberlândia, vizinhos, corriam para impedir a maldade mas até chegarem muita coisa ruim ja havia acontecido. E apesar disso, Adalardo ao que eu saiba, devia gostar da esposa, e durante muitos anos em que frequentei sua casa, nunca soube de nenhum deslize seu. Estava tudo com sempre foi, até que em meados de 96, Dona Abadia que era cardiaca, morre. Adalardo, viuvo, começa a procurar uma nova companheira. Já com mais de cinquenta anos, só sabia viver com uma companheira, dividindo sua cama. Foram umas cinco tentativas, todas frustradas, pois a mulheres que colocava em sua casa todas na mesma faixa etária dele, tinham ligações com filhos, netos, irmãos, irmãs, um verdeiro saco de gatos. Mas, o mais interessante, é que durante os cinco anos em que procurou uma substituta para a falecida esposa, Adalardo não bebeu. Ai, acredito que depois de tantas frustrações, voltou a cumprir seu ritual de beber durante um mês. Acredito que numa de suas saidas para comprar cachaça, tropeçou, caiu e ao cair bateu com o baço na guia, e morreu dias depois. Ao que tudo indica, não se adaptou a vida de viuvo. Até ai, os que estão lendo, deverão pensar, mas o que esse homem tinha de tão especial? Tinha o fato de não comer carne de vaca de jeito nenhum. Se não houvesse outra comida passava fome; e o mais interessante: sabia diferenciar a carne do boi e da vaca de qualquer maneira; crua, cozida, assada, seca. Impressionante!!!! Ele sempre dizia: o bichinho, a vaca, extremamente docil, faz parte da familia humilde da roça, fornece leite as vezes até para tres gerações e, no fim, exaurida, já nem conseguindo parar de pé(os bovinos vivem em torno de vinte e cinco anos) matam a coitada a facadas e fazem o maior festim com o que sobrou. Dizia que sempre que sabia que iriam matar uma vaca em sua comunidade rural, se embrenhava na mata e, la passava dois ou tres dias. Assim era o meu amigo Adalardo. Um homem humilde, analfabeto mas extremamente inteligente e bom. Fiquei extremamente aborrecido por não ter sido avisado de sua morte. Só soube, uma semana depois.

terça-feira, 5 de abril de 2011

P R A Ç A D A E S T A Ç Ã O

 

Fica ao lado de minha casa. Imensa, realtivamente arborizada, ideal para caminhadas. 500mts. a volta completa pela calçada. Mais conhecida como praça da estação, o que realmente é, chamava-se oficialmente Pça. São Paulo, ai mudaram para Webert Junio Fonseca, um jovem que deve ter nascido aqui no bairro e que morreu tragicamente ao entrar numa briga do irmão com um segurança de uma casa de shows à uns onze anos atrás. Achei excelente a idéia. Homenagear um morador que já não entre entre nós.

18-12-08_1215               18-12-08_1227 Ao lado imagens da praça sendo que na segunda, a estação ferroviaria ao fundo. À vinte anos atrás era apens um espaço imenso, de terra batida onde a garotada jogava bola todos os dias. No começo dos anos noventa, a Prefeitura urbanizou toda a área dando a praça o formato que tem hoje. Ubanizaram mas cometeram um erro extremamente grave; plantaram umas mudas de uma árvore natural do serrado chamada popularmente pata de vaca. Acontece que o arbusto deve se desenvolver muito bem dentro do contexto do serrado, porem na praça, foi um verdadeiro fiasco. De umas quarenta plantadas, devem restar apenas umas dez, acanhadas, raquíticas, como se pode ver na primeira foto. Já na segunda, aquelas árvores de grande porte devem ter sido plantadas pelo pessoal da antiga Fepasa. Produzem umas vagens que atraem tucanos algumas vezes por ano. A presença deles, sempre tres ou quatro, é sempre uma atração; a praça tem várias outras árvores de maior porte, inclusive goiabeiras, mangueiras, um piquizeiro e até um pequeno pé de uma fruta típica do serrado chamada popularmente de mamacadela, todas, plantadas pelos moradores; a praça sempre teve seus frequentadores, alguns interessantes, com relativa cultura outros apenas pitorescos, quaze todos moradores das imediações. O frequentador mais frequente, éra um grande amigo que se mudou da praça a alguns anos. O Gutemberg. Todos os finais de tarde levava minhas cachorrinhas para passear e aproveitando a viagem para bater um papo com o amigo. Coisa de velhos, mas bons tempos aqueles. E observar as pessoas que sempre fazem caminhada. Todas as tardes vinha tambem um corinthiano fanático, que de vez enquando, arrumava encrenca com a garotada que ficava jogando bola. O Senhor de idade que mora num quartinho, ao lado de uma empreza de rádio taxi que está no local à muito tempo,   vermelho, baixinho e com os cabelos todos brancos. Todos os que o conhecem melhor se preucupam com ele pois mora só e bebe como um gambá. O Gleidmar vendendo saúde correndo uns cinco quilometros duas ou tres vezes por semana. Foi ainda na praça que mataram um ex jogador do UEC, assaltado; cometeu o erro fatal de olhar para o assaltante que tambem era morador do bairro. O assassinato causou um grande impacto pela frieza do assaltante e pela atitude do pai do mesmo que não exitou em denunciá-lo. Esse, sem ninguem para pagar um advogado que o defenda, deverá ficar muito tempo preso. Esta instalada na praça uma das maiores emprezas de fornecimento de equipamentos para festa da cidade. Durante muito tempo funcionou tambem o Bar do Hermes, um dos moradores mais antigos do bairro, que se mudou para um local mais movimentado do bairro. Onde estava o Bar do Hermes, hoje funciona um igreja protestante pequena mas muito ativa. Uma tres ou quatro vezes por ano, vem os operários da empreza prestadora de serviços, para aparar a grama, carpir vegetação indesejavel, cortar galhos secos das arvores. Deixam o local bem mais bonito. Esses mesmos funcionários me disseram que a prefeitura vai fazer substituição dos bancos e reformar toda a Calçada em redor dela, exatamente onde os frequentadores fazem caminhada. Ótimo; deve melhor e muito o local mais aprazavel aqui do Custódio Pereira.

P I P O C A

Hoje, dezessete de março de 2009, recebí um email de minha amiga Kenia com um anexo que me impressionou. Fala o email sobre um assunto que é crucial para aqueles que estão realmente inseridos no contexto dos dias de hoje. A brutal necessidade de mudar. E faz isso com um linguajar tão singelo que me emocionou. Coloca a nossa necessidade de mudar, ou melhor, os acontecimentos que nos propicia as mudanças, como se fosse milho de pipoca que colocamos numa panela para que estoure. Claro que o calor imenso da fritura, a angustia por não saber o que virá, seria o sofrimento que poderá nos levar a transformação, ou não; ou nos transformamos em pipoca que seria algo desejavel, ou no famoso piruá, que é aquele milho que não estoura, que ninguem come e que, fatalmente ira para o lixo. Claro que as pessoas que não viraram pipocas, seriam tão insensiveis, tão egocêntricas, tão donas da verdade, não mudariam, continuariam a mesma mesmice de sempre. Horrivel,não? Diz o autor que o que provoca toda essa situação é o fogo que aquece o milho. Diz tambem que levando a comparação para o lado humano,seria; existem dois tipos de fogo: o fogo interno que seriam nossas angústias, depressões, pânico, medos; fogo externo que seriam a perda de um amor, pai, mãe, filho, ficar pobre, etc. Eu acredito ter passado pelos dois; o primeiro quando tinha uns vinte e quatro anos em consequencia da perda de minha mãe, num momento em que sentia por ela um misto de amor e ódio, excesso de trabalho e vida estressante em São Paulo; e realmente depois de passar pelas mães de vários charlatães, encontrei um psiquiatra que foi ao amago do problema. Realmente ia para as sessões de psicoterapia me sentindo como milho de pipoca numa panela quente. Realmente um drama pois por amor próprio gostamos de nossa maneira de ser e, esta não esta dando certo, precisa ser mudada. Foram uns seis meses de psicoterapia e transformações radicais até que o psiquiatra certo de que eu era uma nova pessoa, resolveu me internar num sanatório para sessões de coma por insulina. Mais agressivo que este somente o coma por choque. Hoje esses tratamentos de coma foram abolidos uma vez que existem remédios menos agressivos e muito mais eficientes. A previsão era de ficar trinta dias internado, mas por descuido dos atendentes entrei em coma sem estar amarrado à cama e ai, os brutamontes me segurando, distendi aquele músculo enorme das costas, o trapézio. Interromperam as aplicações de insulina às quatro da madrugada. Durante esse periodo de recuperação da distenssão, acordava cedo, e via meus companheiros e companheiras de tratamento sob o efeito do coma; amarrados a cama, tensos, olhos arregados e choro convulsivo; chocante; quaze todos alcoolatras bem nascidos; saia-se do coma, com uma injeção de glicose de 20cc na veia e um mundarel de café com leite melado e pão com manteiga e geléias; uma comilança; terminei o tratamento e recebi alta do psiquiatra mas morria de medo de sair do sanatório e, se não fosse a minha ex-esposa não sei o que teria sido de mim. Foi a única pessoa de minhas relações, que me apoiou o tempo todo e que acreditou que eu realmente estava doente. Saí, fiquei em Santos na casa de uma irmã de meu padrasto até conseguir um emprego novo em São Paulo no Bco. da Bahia, absorvido pelo Bradesco. Fui morar na pensão do Lelo no Paraiso; os sintomas de medo e ansiedade sumiram, mas vez ou outra, tinha depressões fortissimas quando não queria ver nem conversar com ninguem; foi aí que veio a parte mais interessante e instigante de meu tratamento; sem mais nem menos uma tremenda festa na pensão; fiquei sabendo que o filho do Lelo, um italiano bonachão, havia ficado completamente impotente. O rapaz, Murilo com dezesseis anos, ficou uns tres meses trancado no quarto chorando o tempo todo. Imaginem voces para um italiano que faz questão de “filii masculi”; uma desgraça sem medidas. Motivo da festa: o rapaz se tratou com um psiquiatra que era chefe da psiquiatria da penitenciaria do Carandirú, aquela do filme e da chacina, e, rapidamente estava curado, fato comprovado depois de um colega da pensão tê-lo levado à um bordel. Imediatamente fui lá; Dr. Odon Ramos Maranhão; fazia o tratamento primeiramente com duas ou tres consultas de uma hora onde montava um quadro das neuras que atormetavam a vida do individuo e em seguida partia para as sessões de análise com aplicação de um medicamento norte americano, chamado popularmente de soro da verdade. Esse soro da verdade foi depois proibido por solicitação da sociedade norte americana de psicanálise, sob a alegação de que a aplicação do medicamento poderia transformar um cidadão normal no pior dos assasinos. Pior que era verdade. Sinceramente não sei se a droga foi proibida por amor ao próximo ou por amor ao ganha pão dos psicanalistas. A verdade é que a ante-sala do Dr. Odon, era frequentada pelas creaturas mais bizarras que já ví. A que mais me impressionou, foi a de um padre de cerca de oitenta anos que rezava e chorava o tempo todo; vai ver que de arrependimento pelos garotinhos que seduziu. A sessão sempre começava com o paciente deitado num divã, o Dr. Odon começava a fazer perguntas sobre um tema, no meu caso sempre de relacionamento familiar, e em seguida, começava a injetar o tal soro da verdade. Rapidinho o paciente ficava inconciente. Dai para frente ele, o psiquiatra, começava a falar diretamente com subconciente ou similar do paciente. Certo ou errado, a verdade é que nunca mais soube o que era ficar deprimido, ancioso,a ter suores extranhos, problemas estomacais, dores de cabeça, etc.,etc. Mas como tudo na vida, teve seu preço. Me tranformei em uma pessoa extremamente racional, extremamente materialista.Mas sempre de bem com vida; não deveria ser muito fácil conviver comigo. O segundo fogo, aconteceu com minha vinda de São Paulo para Uberlândia; cheguei em 1988 e, mudei-me devido a doença de minha ex-esposa. Imaginava que meus rendimentos cairiam muito, mas nunca imaginei que seria tanto; de um padrão de vida de U$3.000,00 a U$4.000,00, cai para derca de 400, 500 dolares.Foi um tombo muito grande e depois de pouco mais de um ano aqui, voltei para São Paulo, deixando minha família aquí.Mas parece que ficar aquí era meu karma pois com a eleição do Collor e o confisco do dinheiro de todos, perdi o emprego que tinha arrumado e fiquei sem perpectivas de continuar. Por medida de economia, voltei.Consegui um emprego numa rede se pequenos mercados, mas a mesma fechou quatro meses depois. Arrumei um emprego de vendedor de atacado mas, o mesmo tambem quebrou. Aqui só consegui alguma coisa trabalhando por conta propria, coisa que faço até hoje; mas tenho certeza de que vim para Uberlândia para ficar pobre. Realmente as agruras que passei por aqui, fizeram de mim uma pessoa muito melhor do que era. Mas melhor principalmente para os outros. Mas com tudo que se fala de se tornar uma pessoa melhor, se eu pudesse escolher entre a vida que tinha em São Paulo antes de vir para cá, e a vida que tenho aqui, preferiria continuar em São Paulo. Voltando a tema PIPOCA, acredito que a primeira fritura a que fui submetido fez de mim uma pessoa mais valente, mais determinada. A segunda uma pessoa bem mais humilde, mais tolerante com as fraquezas daqueles me me rodeiam. Pelo meno fico com o consolo de nunca ter saido das frituras como "pirua", o milho que não estourou. Sempre sai dos grandes problemas bem diferente do que entrei.

A M O R

Uma palavra tão pequena, com tantos significados mas de uma importância imensuravel para todos. Aparentemente a maior manifestação desse sentimento seja a devoção instintiva que quase todas as mamíferas fêmeas tem por suas crias.Dito isso, acho que fica claro que somos todos consequência de um ato de amor.A cria, por sua vez, extremamente egoista e dependente. E crescemos totalmente egoistas sempre achando que somos o centro do universo. Não sei exatamente quando, mas num determinado momento de nossas infâncias, começamos a enxergar no próximo, um semelhante, e por um mecanismo de empatia, projetamos nossa imagem sobre a dele e aparecem ai nossas primeiras manifestações amorosas, que chamamos comunmente de amizade. E a medida que avançamos na idade formamos grupos e mais grupos formado por pessoas com as quais mantemos laços afetivos de várias intensidades. Em determinados momentos surgem outro instinto extremamente forte que é a necessidade de procriar, sendo que esta varia muito de intensidade, principalmente nos homens, e no geral, é muito mais forte nas mulheres. Tão forte nas mulheres, que conhecí algumas estéreis que criaram uma bolsa de água dentro do abdomem como se estivessem realmente grávidas. Como todos podem ver, em matéria de instintos somos extremamente parecidos com nossos irmãos biológicos, os mamíferos de um modo geral. Por questões absolutamente culturais existe um envolvimento entre casais que o romantismo chama de amor, que seria a amizade com desejo sexual. É exatamente aí que as coisas começam a ficar complicadas. Possivelmente, a pior das complicações seja o que se convencionou chamar de paixão. Tanto o homem como a mulher, quando apaixonados, ficam num estado de extase que que os deixa absolutamente fora da realidade. E todos sabem que a paixão tem vida curta, e as vezes curtíssima; na maioria das vezes vem com um sentimento absurdo de posse; como não existe um padrão de duração de paixão, fica evidente o perigo pelo qual passa aquele perde esse sentimento tão nefasto. O outro ou outra, ainda apaixonado, não estara vendo os fatos com a necessária racionalidade. Outro elemento complicador, é a fidelidade exigida pelos casamentos. Como todos sabemos, o ser humano não é monogâmico, como são por exemplo, os papagaios e as araras. Historiadores dizem que a fidelidade no matrimônio, nasceu da necessidade de preservar os bens de família no periodo em que a humanidade deixou de ser nômade e começou a amealhar riquezas. E essa fidelidade era exigida somente das mulheres pois nas sociedades mais antigas era comum o homem ter quantas mulheres pudesse manter. Tinham eunucos para administrar os seus harens. Na idade média partiam para as cruzadas colocando cintos de castidade em suas mulheres. Nos dias de hoje, com tantos métodos contraceptivos, fica fácil perceber o quão inutil é essa exigência de fidelidade. Possivelmente, o relaxamento dos costumes com relação ao sexo entre adolescentes de classe média aqui no Brasil, se deu principalmente, ao avanço dos métodos contraceptivos para mulheres. E falo da classe média, porque entre as populações menos favorecidas, já não existia quando eu era criança, nos anos quarenta e cinquenta. No meu tempo, sexo só depois do casamento, para as ditas "meninas de família", de classe média, é claro. Me lembro que a minha primeira transa se deu quando tinha quatorze anos, de uma meneira bastante cômica. Naquele tempo não havia televisão e numa noite quente em São Paulo, eu estava sentado no degrau do portão de casa quando vem descendo a rua, bêbada como um gambá, a Neguinha Sabiá. Pequena e magra, mais ou menos 30 anos, alcoólatra irrecuperavel. Descida forte, cambaleante, caiu por cima de mim. Imediatamente a segurei e fui descendo a ladeira de minha rua segurando a Sabiá. Dois quarteirões para baixo, terminava a rua e começava um matagal imenso chamado buracão. Foi ali mesmo a beira de uma picada no mato. A Sabiá gemia o tempo todo e eu, na minha santa inocência perguntava a ela a todo momento se a estava machucando. Claro que ela dizia que não, dizendo entre gemidos para que eu continuasse. Tão diferente dos meninos de hoje. Como eu sempre fui muito objetivo, nunca me interessei muito por namoradas, pelos motivos que citei acima. O mesmo se passava com meus amigos; vez em quando faturavamos uma garota de classe mais humilde, como por exemplo, as empregadas domésticas. Por volta dos dezessete anos tive um princípio de namoro com uma garota de Mogi das Cruzes que vinha para São Paulo com uma irmã para se encontrar comigo e um amigo. Mas morria de vergonha de minha situação doméstica pois era filho de pais separados e isso não era aceito pelo pessoal de classe média na época. Só para se ter uma idéia de como se vivia de aparências na época, quando mamãe morreu em 64, meu padrasto colocou o nome dela na lápide com o seu sobrenome; e ele já estava se preparando para deixá-la dois anos antes, pois estava de caso com uma fazendeira rica casada com um alcoóltra. Com a morte de mamãe e do corno alcoólatra, casaram-se um ano depois. Se estiverem vivos, continuam casados. Mamãe tambem era alcoólatra. Embora, devido as loucuras de mamãe, conflitos dela com meu padrasto, aventuras da mesma que nunca foi fiel nem no primeiro e nem no segundo casamento, vida estressante de São Paulo, precisei fazer tratamentos psiquiátricos muito severos dois anos depois de sua morte, mas sou muito grato a tudo que aprendí com a mesma. Aprendí em primeiro lugar a entender e aceitar a sua sexualidade, que fidelidade é "conversa mole pra boi dormir" e outras coisas tantas que só as mães são capazes de ensinar para os filhos. Pena que só fui aprender depois de sua morte. Mas voltando ao tema principal desse texto, o amor é relmente uma das melhores coisas que se pode ter. Me lembro claramente do encantamento que tinha pela minha ex esposa, da imensa emoção que sentí ao vê-la nua pela primeira vez, dos nossos encontros furtivos, aproveitando todas as chances que tinhamos. Sempre muito escondidos pois na época "moças de família" só faziam essas coisas depois de casadas. Casamos em 1969. Na epoca eu morava só em um apto. de um quarto, sala e cozinha na av. nove de julho, quinhentos metros acima da praça da Bandeira. Foram uns quatro ou cinco anos de puro encantamento. Depois a ex começou a se queixar de falta de ar, queria se mudar dalí de qualquer maneira e, alugamos um apto. perto da casa dos pais dela a onze quilometros do centro. Tinhamos combinado que só teriamos filhos depois de termos uma casa nossa, mas a mesma engravidou quase que só pela vontade dela e grávida, parou de trabalhar; e eu "babaca" como quase todos os homens, fui atendendo aos caprichos dela; outra coisa interessante da ex; ficava apavorada cada vez que eu melhorava de vida; uma pessoa completamente desinteressada por dinheiro; mas extremamente voluntariosa nas coisas que realmente queria. Resultado, depois de 29 anos de casamento, foi se embora depois que tomei uma atitude enérgica com meu filho caçula. Mora aqui perto de casa, trabalha como secretária de uma escola do governo de Minas, e não me pertuba com questões de dinheiro. Moro só à cerca de dez anos e não consigo me imaginar dividindo a vida com outra mulher. Não faltaram nesse periodo, relacionamentos, uns muito bons, outros tantos razoaveis e alguns horriveis que tratei de encerrar no nascedouro. Mas o mais importante de tudo é que aprendí que se pode perfeitamente amar uma pessoa sem querer que ela mude o seu comportamento. Simplesmente aceitando que ela é uma pessoa única, com suas virtudes e defeitos. Nada daqueles lances de metade da laranja, almas gêmeas e outras babaquices do genero. Cenas de ciúme, nem pensar. Agora mais importante ainda é nunca ceder em função da outra deixando de fazer algo que se gosta muito, que faz parte de nossa personalidade. Esse tipo de concessão acaba com tudo que é bom em matéria de sentimentos. E que se vê mais em matéria de casais é um relacionamento tenso, desiquilibrado, em que um, mais agressivo domina e impõe suas vontades sobre o outro que adota uma posição mais passiva. E vem os "entendidos" dizerem que se trata de uma relação amorosa, em felicidade pra sempre, etc., etc. Acho que é devido a isso que dois amigos ao se encontrarem, um diz ao outro: casei-me, ao que o outro responde: contra quem?